terça-feira, 24 de maio de 2016

Não há nada de mágico sobre o café da manhã

Eu sou da época em que se achava que o café da manhã (desjejum) era a refeição mais importante do dia. Deveríamos, segundo um ditado, comer pela manhã como reis, no almoço como príncipes, e à noite como mendigos.

Aos poucos vamos descobrindo que isto é bobagem.

Um texto publicado ontem no New York Times  deixa claro que não há nada de mágico sobre o café da manhã. Até mesmo pede desculpas.

Eu não costumo comer nada pela manhã. Em geral tomo café com nata. Portanto não faço um jejum intermitente tradicional, só à base de água.  Mas não consumo nenhum carboidrato ou proteína pela manhã (ou ao menos até 11h30, que é quando almoço).

E por que faço isso? Porque é o que me dá vontade de fazer. Até seria mais prático e barato tomar café da manhã, pular o almoço, e depois só jantar. Mas, em geral, não tenho vontade de comer pela manhã. E quando tenho, simplesmente como.

O mais importante do texto de Aaron E. Carroll (professor de Pediatria na Universidade de Indiana) no NYT é deixar claro que muito que aprendemos sobre nutrição ou é baseado em ciência ruim, ou é baseado em interpretações incorretas de resultados científicos. Parafraseando Steven E. Nissen, será que a área de Nutrição é uma Área Livre de Evidências

Pelo texto do Aaron, sim. Ele lista vários erros que foram cometidos ao longo dos anos para apoiar a ideia de que o café da manhã é uma refeição importante, ou a mais importante. E a conclusão dele é que as evidências são uma bagunça e não dá para concluir que o café da manhã tem poderes místicos.

Matéria no NYT

PS: Que café da manhã maravilho na foto! Ovos com bacon. E por anos pessoas (eu, inclusive) acreditaram que isto engordava... Acredito que alguns ainda acreditam. 

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Os custos dos carros

Todo mundo que acompanha o blog sabe que sou fã da Corrida-Transporte.

Claro que sei também que nem todo mundo consegue praticar.

Alguns tem que usar carros, por fatores diversos.

O que raramente vejo ser abordado são os custos de ter um carro. Vou listar alguns:

  • O preço do carro em si, que no Brasil é considerado alto demais, por conta de impostos e baixa concorrência. 
  • O custo do seguro do carro. É bem arriscado ter um carro (mesmo que simples) e não ter seguro. E se você bate num carro bem caro? E se você se envolve num acidente com vítimas?
  • O preço do combustível. 
  • O preço da manutenção preventiva e corretiva.
  • O preço da atualização do carro. A cada x anos (e este x depende da pessoa) você vai ter que trocar seu carro por um mais novo.
  • O preço do estacionamento para quem, como eu, trabalha em locais que não dispõem de estacionamento ou em que não é possível deixar o carro com segurança na rua.
  • O preço dos impostos (IPVA, DPVAT).
Esqueci algum?

Já vi os itens acima serem abordados até em programas de TV, apesar de isto ser raro. Na matéria uma pessoa entrevistada acabava concluindo que valia mais a pena usar táxi.

O interesse é observar é que alguns dos itens acima variam de acordo com o uso. Por exemplo, quanto mais você usa o carro, mais vai gastar com combustível. Já em outros casos, a variação em relação ao uso é pequena, o que acaba estimulando um pouco o uso do carro para quem já tem um.


Mas tem alguns custos que  não são frequentemente abordados. Eles são:
  • O custo para a saúde de ficar sentado por muito tempo. Ontem mesmo fui buscar minha filha na escola a menos de 5 Km de casa e tive que ficar 30 minutos sentado.
  • O custo de suportar o estresse no trânsito.
  • O tempo produtivo perdido dentro do carro. As únicas coisas úteis que dá para fazer dentro do carro são ouvir música, escutar podcasts e conversar.  Ao menos no ônibus/metrô dá para ler.

PS: Tem um custo que também não é muito considerado: o custo psicológico de batidas e atropelamentos. É raro, mas às vezes quando dirigimos batemos em alguém, ou alguém bate em nós. Ou, pior, atropelamos alguém, mesmo que sem culpa. É um saco lidar com isto.

PS: os comentários do Lucas Arruda são tão pertinentes que vou acrescentar aqui:

Interessante como quase ninguém contabiliza todos esses custos.

Além desses, ainda tem o 2 custos que são mais difíceis de se captar inicialmente:

- Custo de perda do investimento:
é o que você perde para inflação/investimento em termos de dinheiro, caso estivesse com ele aplicado num investimento ou poupança. ex.: supondo que gasta 50mil num carro. Esses 50mil, ao longo de 5 anos, vão virar R$ 67mil (50*1,06^5) numa poupança! Supondo que esse valor é o mesmo da inflação, você na verdade tem a mesma quantia, porém perdeu 17mil em termos de valorização do dinheiro se tiver adquirido o carro, 5 anos atrás. Ou seja, seu 50 mil em 2010 = R$ 67 mil em 2015. Só que gastando esses 50 mil o dinheiro não se corrige, então seu patrimônio desvalorizou 33%!

- Custo da depreciação do carro:
é aí que entra a realidade. Na verdade, seu patrimônio desvalorizou ainda mais. 5 anos depois, o carro de 50mil se vende por 25, 30 mil (as vezes menos!). Supondo 25 mil, na verdade você, além de todos os custos com o carro, você perdeu mais 25 mil. 

Então num carro de 50 mil, você teve perda de patrimônio de R$ 42 mil ou 63% do valor (em termos de dinheiro atual, pois 25 é 37% de 67 em 2015). Lembre-se que hoje, seu dinheiro está em 2015 e você teria R$ 67mil, mas tem só R$ 25mil se liquidar o carro.

Aí no final o gasto fica mais ou menos assim:
( (VALOR COMPRA - VALOR PERDIDO (desvalorização + investimento + inflação)) / NUMERO DE ANOS C/ CARRO ) + VALOR GASTO ANUALMENTE COM CARRO

Obs. 1: Nem chegamos a considerar aqui o gasto com o financiamento, que muita gente faz! Ex.: se financiar e no final você pagou 30mil a mais, quer dizer que tem adicionar esse valor dividido pelo número de anos c/ o carro. 30 mil nos daria um valor de 6 mil a mais por ano, em 5 anos com o carro!

Obs. 2: O preço de atualização não consideramos, porque aí você faz toda a conta de novo, sem considerar o preço do antigo. Ex.: Gastei 50 mil pra comprar, desvalorizou tanto, deixou de render tanto, etc.

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Outra coisa interessante que você trouxe:
Com o trânsito crescente de BH, eu ficava muito estressado de dirigir. Comutar com ônibus eu não tinha nada desse estresse!
Além de poder ler durante esse tempo (embora gastasse 40min ao invés de 20, tinha quase 1h30 de tempo de leitura / dia).



segunda-feira, 2 de maio de 2016

Longo comentário em Leituras de Segunda-Feira

Leituras de 2A Feira


Achei estranho o estudo do 1 minuto versus 45 minutos. Mas, antes das críticas, achei a ideia ótima.
Acho estranho que o texto pareça ser uma recomendação para treinar um minuto por dia.
O Nassim Nicholas Taleb, por exemplo, “treina” 10-20 horas por semana!!! Claro que as 20h são caminhada, mas ele diz que é essencial para a saúde, então qualifico como treino. E, claro, adiciona treinos de força aqui e ali.
Mark Sisson tem uma recomendação bem superior a um minuto. E posso citar vários outros, sem muita ciência por trás.
A diferença deste texto da Gretchen Reynolds é que tem ciência por trás.
Ela afirma:
“One minute of arduous exercise was comparable in its physiological effects to 45 minutes of gentler sweating.”
Como eles compararam? Que variáveis compararam? Em ciência a gente sabe que a escolha das variáveis é fundamental. Por exemplo, antigamente se comparava dieta vendo o efeito no colesterol total. Hoje sabemos que isto é bobagem.
No caso do artigo, foram apenas duas variáveis:
– the body’s ability to use insulin properly to regulate blood sugar levels.
– how well the muscles functioned at a cellular level.
Muito pouco. Precisariam medir mais para que os resultados me convencessem.
Outra coisa, foram 10 minutos de alta intensidade, e não um. Não entendo esta tara em excluir os minutos de aquecimento, desaquecimento e descanso.
O estudo durou 12 semanas. Doze semanas pode ser muito em relação a outros estudos mas é bem pouco.
E, claro, os participantes do estudo eram pessoas fora de forma.
Dito isto, eu acho que a recomendação de exercício contínuo é mesmo bobagem, apesar de poder ser prazerosa.


Completando: o treino de alta intensidade durou 10 minutos. 1 minuto foi a parte efetivamente em alta intensidade.
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O texto acima foi comentário ao post da imagem lá em cima.

Também escrevi um segundo comentário: